Amar no Escrever

Olhar o mínino, apanhá-lo, exacerbá-lo e racionalizá-lo. Do pensamento para o papel directa e seguramente. As minhas mais inúteis e valiosas premissas.

Thursday, August 31, 2006

Incompetência minha.

Todos pensamos, mais ou menos e com maior ou menor exactidão, nestas coisas do amor. Pelo meio de raciocínios apontamos, sempre inadvertidamente e sem maldade, o dedo aos que não optam como nós. Deixamos o nosso lado crítico avassalar muitas vezes aqueles que, comidos pelo que pensamos, são incompetentes, insensíveis e diminuídos. Então, quando já temos aquele travo amargo na boca por parecermos tão seguros de nós e tão cientes da nossa, repito, nossa realidade, vem a constatação que andamos perdidos. Levamos então a chapada ignorante com força e nem o esfregar faz a sua marca desaparecer do nosso rosto.
Eu, que me rendo ao amor verdadeiro e que acordo os que só querem o que não podem ter, oiço por vezes um despertar mostrador que também eu tenho o meu lado miserável e fatalista. Sinto-me capaz por ouvir o despertar mas não deixo, de maneira nenhuma, de me sentir derrotado pela minha pequenez. Consciente da minha incompetência sentimental sou obrigado a abrir mão do que me vem a alimentar já há algum tempo. Abro a mão por minha escolha e isso pode levar-vos a pensar que, afinal, sempre tenho a força precisa e que os fortes caem para se voltarem a erguer. Se pensam assim estão toldados do mais importante, não por pouca perspicácia, mas por não terem acesso ao sentimento. É o sentimento que me mata. Depois de despertar, e me virar para o meu lado bom da estrada, abro a mão com sofrimento. Abro a mão e sinto um amor fugir. Enquanto mantenho a mão aberta e deixo a abelha voar sinto tudo o que me corre nas veias pedir para não o fazer. No fim, em vez de me orgulhar pela força que tive, lembro-me que foi pelo seu pedido que não voltei a fechá-la e estou afinal, depois de vencer, ainda envenenado, esmagado e queimado como antes. Fecho-me sozinho na minha incompetência e espero amanhã resolver levantar o queixo.

A ideia perfeita.

Ela merece! Eu nao sei porquê mas também nao me interessa. Estou certo que merece. E assim vou esperar com mais ou menos calma consoante a força momentânea que tenha. Esperar que me dê desprezo a dez centímetros de distância. Quando der, então, desisto. Juro a mim mesmo que desisto.
Por agora olho-me ao espelho e procuro-a... Mantenho a ideia que talvez o desprezo seja impossível por ser como é e por colarmos assim.
Sinto até que se o desprezo vier nao fará mal. Tenho apenas de esperar até ele para me sentir bem comigo mesmo. Não consigo porém ser optimista. Por mais confiança que tenha e mais exigente que seja, por mais anos de nós e por mais juntos que tivermos, nunca mas nunca poderei achar que te completo. No dia que achasse teria deixado de te amar.

Esta foi a ideia que abracei sem noção de espaço e tempo. Nem sei quanto tempo vivi assim mas sei que nunca me senti miserável e infeliz.
Foi sem dúvida a ideia perfeita que esmagaste como só tu podias esmagar.

A pior morte.

E hoje, pela última vez, olho em vão para todo o lado.
Não reconheço a cor nem a beleza das coisas.
Incerto sobre uma força maior, ofereço-lhe tudo em troca do teu respirar. Aguardo o tempo que consigo e por fim, consciente do silêncio, opto por me deixar morrer assim à beira da estrada e da vida que podia ter tido.

A atracção dos opostos.

Não podemos pressupor a atracção dos opostos. O que devemos fazer é considerar a atracção dos opostos como algo mais forte no imediato. A atracção neste caso, quando existe entre duas pessoas diferentes com auto-estima, é mais forte por ter já um dos dados mais importantes para a consumação do amor; a tolerância. Quando queremos alguém diferente toleramos imediatamente as suas diferenças. Um exercício muito útil para depois da coisa se desenrolar. Namoremos um ou trinta meses e não conseguiremos evitar esta constante fulcral. A de tolerar as diferentes opiniões e acções de quem amamos.
Não exageremos, no entanto, ao ponto de pensar que a magia será maior entre pessoas opostas. Se se deixar a luz enfraquecer, a capacidade de tolerar poderá desaparecer assim como nos casais mais "compatíveis" individualmente. Também não é certo dizer que numa relação entre personalidades opostas se tenha de tolerar mais do que entre personalidades próximas. Há que ver a questão na sua simplicidade. No amor, os opostos não se atraem por ser opostos e, caso se atraiam, gozam apenas de um treino inconsciente, importante para o sucesso posterior da coisa.

Poder na imperfeição escrita.

Leio as minhas palavras. Escrevi certezas momentâneas e os textos acabam por me falar, em parte, como falam para vocês.
Tento manter a ideia inicial. Ver as coisas que muitos ignoram, agarrá-las e despi-las no momento, instintiva e livremente.
Apercebo-me de um valor. Poucos sentem o amor ardentemente no momento. Para a maioria o amor está longe ou é já dado adquirido e conhecido. Fugir com as palavras à monotonia geral cativa-me.
Abraço agora um novo dado. Sendo quadrado em todas as artes olho a minha vocação como um traço de personalidade. Passo o raciocínio directamente para o papel. Pensamentos curtos e directos tiram a presunção da escrita e a sua impossível genialidade. Deixo no entanto o nu e cru sem intenções e sem procurar a concordância. Na sinceridade, mediocridade e imperfeição escrita ganho aliados contra a apatia. Sinto agora o seu poder nascido no esquecer da pedância.

Engate do comprometido.

Outro dos maiores erros que cometemos. O engate do comprometido é desde logo errado porque lhe estamos a faltar ao respeito. Podemos olhar com olhos de ver, desejar, cobiçar e até comer mas nunca tentar engatar alguém comprometido. A tentativa em si passa em nós um atestado de falsidade emotiva e de falta de perspicácia. Façam o que acharem melhor mas não posso deixar de dizer que não concordo.
Quando decidimos mostrar interesse por alguém comprometido é, supostamente, porque valorizamos essa pessoa. Desvalorizamo-la imediatamente quando damos o passo em frente! Quando alguém de valor namora não o faz até arranjar melhor. Fá-lo até as coisas acabarem e nunca deixa que as coisas acabem por pressões externas. Quando alguém de valor namora não aceita cobiças, venham de quem vierem, e em último caso afasta-se do cobiçador. Portanto, engatar alguém comprometido é ridículo a não ser que busquem um parceiro que não passe de pechisbeque. Aquele tipo de jóia que na vida parece requintada mas é banal e no sexo abana bem o cu mas não serve para mais que bons bicos.
Esta última frase explica imediatamente o pensamento de muitos vocês. Aquele pensamento "mas é bom comer e não sei quê". Percebam que a atracção sexual pode ser mais forte que um namoro de anos mas a atracção sexual sai pelos olhos. Não precisa de palavras nem de flirts nem de engates para passar por cima de tudo e levar à consumação do sexo. E este sexo vale a pena. Percebam portanto que o erro não está em comer mas sim em engatar!
Quando engatamos unicamente para fins sexuais fazêmo-lo conscientemente e escolhemos os alvos com algum cuidado. Importam-se de começar a tirar os comprometidos da zona de tiro? Se optarem por eles que seja por não conseguirem quebrar o fitanço! Só assim prossigam com a coisa. É que fora isso o mais provável é levantarem um mar de dúvidas e acabarem a noite a ouvir conversa de merda. Ora isso ninguém quer. Podem também passar ao lado da conversa de merda e foderem mas para engatarem putas mais vale descomprometidas e mesmo assim há quem, como eu, veja nas putas nada mais que uma punheta com a mão esquerda.

Wednesday, August 30, 2006

Adormecer longe.

Agora o que queria era estar contigo. Dizer-te tudo o que te quis dizer hoje. Falar-te frente a frente até fechares os olhos. Continuar sempre até tombares e parar apenas quando mo pedisses por te sentires acariciada por um mar de palavras só tuas. Palavras soltas para se colarem ao teu corpo e te mimarem incessantemente. Para te levarem ao prazer máximo e chegares à exaustão do sentimento. Para te matarem a sede e a fome de tudo o que precisas e para, por fim, procurares os meus olhos e dizeres: estou cheia. Alimentada optas por dormir e então viajo até ti. Alimento-me com todas as vezes que enches o peito. Com todas as vezes que te mimo o cabelo ou a mais doce pele que conheço. Acordas e procuras-me em primeiro lugar. Sentes-me em ti como sempre e agora tentamos adormecer. No silêncio encontramos o nosso cúmplice pela noite dentro. Nenhuma palavra nos pode descrever assim.

O amo-te omitido.

Entristece-me a desvalorização da palavra amo-te. Facto é que está demasiado batida e consequentemente fora de moda. Já pensaram que há uns tempos era, certamente, a palavra que toda a gente mais queria ouvir? Pois... Hoje não lhe damos a mesma importância. Hoje se a ouvimos tomamo-la na sua estúpida conotação social. Jamais poderemos dizê-lo em público com excessão para um dia de casamento ou de parto. Dias esses em que tudo diz "lindooo!!!" e depois pensa "pronto, é dia de festa". Depois há quem o diga curriqueiramente sempre que desliga o telefone e noutras parolices do género. Também há aqueles que lhe tiram a espontaneidade e obrigam o parceiro a pensar antes do obrigarem a dizer. Eu, consciente desta realidade, sou incapaz de a contornar e só a valorizo em determinadas condições.
O que descobri hoje, porém, foi uma espécie rara. Tomei consciência de um tipo de amo-te. O amo-te omitido! O amo-te omitido não é mais que a vontade de dizer amo-te quando nenhuma realidade presente o permite excepto a realidade amorosa. Imaginem que têm uma paixão daquelas mesmo cheias e prometedoras mas totalmente em fase pré-amorosa. Daquelas em que sentem o amor apenas a uns tempos de distância. Essa paixão está demasiado triste e procura ajuda em vocês. Não querem soltar um amo-te? Ainda não há razões nem condições para amar, e o mais certo é a paixão se virar com um olhar mesmo estranho, mas não vos apetece dizer um grande amo-te entre duas das suas lágrimas? Agora imaginem a vossa ex-namorada agarrada a alguém no meio de dez amigos mútuos. Vocês estão melhor sem ela mas ao verem-na pela primeira vez depois da separação vem o bicho e morde mesmo com força. Não querem dizer "eu amo-te foda-se!!!!"? Então e numa discussão acesa em que se procure uma decisão importante e em que desconversar é sinónimo de derrota? Durante a cena agarram um olhar, um tique, uma palavra ou outra coisa perfeita que vos abale e vos faça sentir o amor espontaneamente. Não o vão querer verbalizar bem alto? Espero que tenham percebido a ideia e espero sinceramente que já a tenham sentido.
Não há a meu ver uma vontade por uma palavra mais forte que esta. É o amo-te puro no poder total da palavra. É o amo-te que nos faz tremer como antes. É a constatação que o amo-te é ímpeto, é querer, é sufoco e é único. Aqui encontro a palavra do amor e optando por soltá-la ou deixá-la omitida não deixo nunca de a desfrutar.

E analmente te quero!

Pouco pensei em vertente sexual nas últimas palavras mas hoje tenho de o fazer. Vem-me à cabeça aquele momento sexual em que apelamos ao sexo anal. Se elas pensam que festinhas e meiguices no rabo é que levaram ao "já agora mete-se aqui!" são muito ingénuas. Se eles pensam que um movimento rabial inesperado convidou inadvertidamente à "back door" são muito meninos. Se falam muito acerca da coisa arriscam-se a perder, neste caso, metade da graça.
Na cama temos, acima de tudo, de ser espontâneos mas também temos de querer e saber explorar as nossas fronteiras. Soltos e decididos chegamos a qualquer lado e fazemos tudo no sexo transformando, inicialmente, uma prova de confiança num amor louco, chegando até à agressividade carnal. Conseguimos satisfazer taras esquecidas ou menos importantes se soubermos explorar o sexo pela totalidade do prazer. Todos estes impulsos são ricos em espontaneidade e devem ser levados a sério. Venham eles durante o sexo, a meio de um olhar ou aquando de uma lembrança erótica em pleno ataque aos saldos no chiado. Todas estas vontades são só nossas e merecem dedicação por o serem. Agora vem a diferente questão de hoje; o sexo anal.
O sexo anal é um impulso geral. Até a menina sacra se pergunta se é bom. É já conceito universal mais que tara pessoal. Não pode ser englobado nas fantasias e promiscuidades pessoais, as tais do parágrafo anterior. Este factor torna bem mais difícil de o fazer visto que generalizar na fantasia não é uma coisa que se queira. A questão é que o impulso está lá! Num casal bem experimentado, ou que se queira experimentar bem, a coisa aparece dos dois lados mas fora esses casos, como devemos nós passar ao lado do "mas eu hoje quero mesmo ir-te ao cu!!". Quem fez uma careta? Pois... Então mas não é verdadeiramente ir ao cu? Portanto foder é termo giro e livre e sexualmente explícito mas ir ao cu é uma agressividade... Enfim... Pormenores à parte chega-se sempre áquele momento. Um quer porque gosta, porque precisa, porque está curioso, porque quer. Quer porque no sexo descomplexado não descansamos sem um pouco de tudo. O outro ainda nem pensou se quer e já vai a coisa encaminhada ou então já soltou um "aiii aí não". Chegamos portanto a outro problema analmente explícito: o sexo anal só é bom quando ele sabe o que está a fazer e ela, confiante e solta, se deixa comer. Não é um sexo para todas as noites mas não deixa de ser um óptimo sexo. Precisa de tempo e de muita meiguice e até um lubrificante pode ajudar. A agressividade da expressão é completamente falsa visto que não há sexo mais meigo que o anal.
Amigos e amigas procuram-se e conversam acerca destes ímpetos. Que isto vos sirva de alguma coisa. O sexo vaginal é bom para todos. O sexo oral e anal já só é bom para alguns! Mas que mentes mais teimosas... Abram essas cabeças, e já agora esses rabiosques, e façam-no por puro gosto. Encontrem no sexo só e somente o vosso parceiro. Sigam-no e cheguem a vós novamente totalmente embriagados. Todos os sexos são, no mínimo, fisicamente agradáveis. Se as vossas tendências sexuais estão viradas para a heterossexualidade então há que abraçar a analidade da coisa.

Ciúme para não ciumentos.

Aos olhos de um ciumento, o ciúme não é menos sinónimo de fraqueza, chatice e parvoíce do que aos olhos de um não ciumento. Nesta constatação está a raiz do ciúme. Nós, ciumentos, recalcamos e apagamos todos os impulsos até não aguentarmos mais. Perguntar-nos se temos ciúmes porque isto ou aquilo é ridículo. O ciúme começa muito antes e apenas com a gota de água rebenta. Vamos portanto vivendo a nossa vida passando por cima de ciumices agudas e primárias, deixando sair o nosso total desconforto apenas quando o tanque rebenta.
Não posso deixar de dizer que os ciumentos têm, no entanto, muito pano para mangas que, bem trabalhado, pode ter um sem-número de recursos. Em primeiro lugar o ciumento compreende os ciúmes e a possessividade melhor que ninguém. Depois o ciumento dá ouvidos ao seu amor sem o julgar ou pesar; apenas porque este sente. Não esquecer também que o ciúmento não tem quaisquer problemas em manifestar-se possessivo quando quer - possessividade essa muitas vezes positiva e até necessária para que os outros se sintam desejados. Sou um ciumento da pior espécie mas totalmente domesticado. Numa relação há que dar espaço; deixar fazer o que se tem para fazer. Há que aceitar quinhentos traços calmamente fazendo-se pedidos apenas nas coisas mesmo insuportáveis. Namorar é assim: tolerar muito e exigir pouco! Sou daqueles que diz "sim sou ciumento" e que leva com o "ai não se nota nada, a sério!". Enfim, domesticado...
Culpados não somos por sentirmos com tanta força e espontaneidade. Quando a pessoa que amamos se aproxima para nos dar um simples beijo de olá vem-nos tudo ao chão. Corremos airosamente para a pessoa com um ar "então! tudo bem?" mas quando lá chegamos o mundo entra em câmara lenta. Sem que ninguém repare absorvemos tudo o que conseguimos. Uma festa do cabelo, um aroma, um toque de pele, um olhar mais forte, enfim, o que pudermos! E cobiçamos! Mas cobiçamos mesmo! Então não somos culpados por vermos, num gesto social simples, algo muito mais forte e pessoal consequentemente tendo ciúmes.
Ciúme é sem dúvida fraqueza. É fraqueza que se tem independentemente da nossa força e frieza. É isto que me faz viver feliz com o ciúme. Sendo frio e calculista gosto de me sentir à flor da pele assim por parvoíces. Gosto de me sentir infantil e gosto de o fazer só para mim sem que ninguém me aponte e me exija explicações impossíveis. Ciúme doentio não. Ciúme apaixonado sim se faz favor!

Tuesday, August 29, 2006

Amor e Paixão.

Perguntam se o que escrevo está mesmo debruçado no amor. Alegam portanto que fale muitas vezes de paixão. Começo então por abrir pessoalmente os dois conceitos; ambos existem independentes mas podem como é óbvio coexistir. Quando falo de amor na primeira pessoa refiro-me a essa coexistência. É portanto ao amor apaixonado que dou mais valor.
Para muitos falar-lhes de amor remete o seu pensamento à terceira idade e aos avós que estão casados há quinhentos anos. Falar-lhes de paixão remete-os à adolescência. Isto é com cada "mentecaptice"... Segundo a minha óptica, o amor sofre metamorfoses ao longo da vida. Quando alguém se consciencializa que ama está obviamente apaixonado. Pode depois perder essa paixão, esse calor, voltando novamente a senti-la. Por isso é tão importante ter o amor consciente evitando o descrédito momentâneo muitas vezes inevitável. Por isso é tão importante o querer conquistar o amor todos os dias e, ao mesmo tempo, o ser tolerante. Estas duas vontades são a meu ver as mais importantes. Já perguntei num dia bom se a fazia feliz recebendo um sim com um sorriso bem aberto. Já perguntei num dia mau se a fazia feliz recebendo um sim com um sorriso consciente e carinhoso. Existe aqui a tolerância para com a minha falha temporária mas sempre a noção suprema que dou o meu melhor todos os dias. Assim vai-se longe.
A paixão é aquele apertar incontrolável que na distância até nos dá azia enquanto o amor é o nó na garganta que na proximidade só se acalma olhos nos olhos. Nenhum deles pendente do terceiro, a não menos importante, atracção sexual. Mas com essa ainda ninguém refilou por isso não me vou alongar. A paixão vem normalmente primeiro que o amor e quando me refiro a amor apenas na presença de paixão abraço já a inevitabilidade da coisa. Ver mais além é normalmente a intenção de quem se pensa a sério. Sentir o que se está para sentir será a última fronteira.

Amar com pêsames.

E pronto. Uma ideia pouco vulgar e felizmente pouco comum mas, ainda assim, uma geral comichão sentimental e intelectual.
Não sei como estar. Já fumei, comi, ouvi, falei, fiquei e andei sem que nada mudasse. Generalizo obviamente levado a crer que todos nos sentimos assim quando amamos com pêsames. Perdi tanto tempo neste debruço que sinceramente mais vale escrever por escrever. Se poupar umas horinhas de matutanço a alguém já valeu a pena.
Estamos portanto perante um problema. O nosso amor perdeu alguém que nos diz, no mínimo, menos. Ficamos portanto incapazes de limpar a sua tristeza e de viver com ela mas, ainda assim, encarregues de apoiar da melhor maneira possível. Nem a total concentração no desempenho de tal tarefa nos tira a azia.
Sendo vincado nalguns aspectos, tenho o traço de esquecer instintivamente o que me magoa mal sinto quem amo magoado. Basicamente foi isso que fiz. Ainda não tive tempo para sufocar com a sua tristeza sentindo, porém, sempre presente, a tal comichão. Quando ela acalmar terei tempo para me debruçar aqui e deixar-me sofrer já com a noção que o pior passou e sempre com mais algum descanso. Também não a quero sufocar com atenção. Saber dar espaço é a primeira regra de ouro após uma morte.
No meu caso particular amo alguém forte e decidido, capaz de reagir a adversidades como ninguém.. Acreditem; isto não ajuda nada! Mais valia um pranto infantil muito mais fácil de acalmar que um estado de vigília constante por cima de um véu negro e pesado. Conformo-me pensando que também com isto me apaixonei. Com esta força desgarrada.
Então mas afinal a que palavras recorri? A que conclusão cheguei? Longe do génio pretendido, acabei por apenas preparar três episódios: o velório, o funeral e a lembrança espontânea. Nunca mas nunca entrar pelos clichés do costume... "Ai já estava tão doente", "ai viveu uma vida cheia", "ai foi para um sítio melhor". Quem diz isto que passe já um atestado de trissomia vinte e um ou que se limite, por opção sua e consequentemente a bem, aos palpites Floribelanos do dia-a-dia. Preparei-a para estas frases que, sendo escarretas cerebrais, vêm ainda por cima de gente que não conhecia o falecido ou com quem o falecido tinha a relação do "bom dia!". Depois preparei-a também para o choro pegado. Dois querem verdadeiramente chorar mas dá-se rapidamente o acidente em cadeia e na percepção desse choque sai magoado quem, verdadeiramente, precisa de lágrimas. Nunca esquecer o embate que sofre quem nos ama ao ver-nos chorar evitando portanto aqueles choros induzidos por nós. Se se amava o falecido então porquê faltar-lhe ao respeito e lembrá-lo por algo que todos têm? Velórios e funerais.. Porquê amá-lo em vida, perdê-lo para a morte e depois recordá-lo morto? Aqui chego à lembrança espontânea. Que se chore pelo pormenor. Pelas meiguices e felicidades sublinhadas em momentos únicos agora irrepetíveis.
Assim marquei a minha posição e apresentei-lhe a tristeza real imunizando o pranto social. Infelizmente não posso estar lá para ver mas sinto-me mais calmo e confiante em alguém que merece, hoje e sempre, o máximo do meu crédito.

Sexo no casal.

Existe em todos os casais, felizes ou menos felizes, um querer sexual. Um querer com diferentes intensidades que vai do "e se fizessemos amor?" até ao "eu tenho de te foder!" passando pelo "ainda agora estava calmo...". Não julgarei esta questão porque pronto; "desde que sejam felizes...". No entanto não posso deixar de escrever acerca disto.
Somos, quase todos, sexualmente medíocres e mesmo os que não são, têm altas probabilidades de amar quem seja. A sexualidade pode crescer livremente mas o limiar entre a libertinagem e a modelação é demasiado ténue neste último caso. São poucos, porém, os que se julgam maus na cama. Procuramos interiormente a sensação de dever cumprido antes da satisfação pessoal. Quando amamos somos assim e na nossa bondade cometemos o primeiro erro. Do "Ah e tal veio-se" até ao "Ah e tal notou-se que gostou". Temos uma natureza sexual pobre. Por natureza só fodíamos para reprodução portanto sempre temos evoluído, ainda que, do meu ponto de vista, muito pouco.
O social leva-nos a crescer sexualmente mas da maneira mais errada possível. Somos incentivados a fantasiar de fora para dentro. Vemos programas televisivos que não servem para mais do que descentralizar o nosso pulsar erótico e fazer do mais valioso a coisa mais fútil. Procuramos então fantasias por procurar saindo da rotina rotinadamente. Somos casais e acasalamos. Leia-se acasalar como foder sob um parâmetro estático. Sob uma receita concebida a certa altura em que ambos os cônjugues acreditam que satisfazem. E tem-se prazer assim e a receita é de manter; não deverá é ser usada 90% das vezes...
O prazer em foder não está só no prazer de acasalar. Foder é mais que isso. É comer o nosso parceiro como nos apetece. É tocar, virar, segurar, trincar, beijar, roçar, falar e explodir da maneira que quisermos consoante o dia que tivemos desde o para que lado acordámos até ao segundo pré-foda. Só se fode verdadeiramente quando se tem a consciência que nada se percebe de sexo. E, claro, quando se tem fome! Preliminares são bons mas é tão obrigatório foder com eles como sem eles. Há que fazer a coisa calmamente e esperar pelo rush pacientemente mas há que foder também até tornar a pornografia ficção por ser demasiado limpinha. Num equilíbrio aberto e desregulado se encontra a total realização sexual. Um equilíbrio trabalhado. Tomem então mais uma razão para se comerem hoje.

A musicalidade da coisa.

Sabendo de pintura por meia dúzia de livros e de escultura ainda menos...
Medíocre literalmente, trôpego na dança a sério e burro a contemplar paredes...
Abraço a música como porta mais acessível à minha estúpida vocação. Não porque me sinta em compôr mas porque me encha livremente com composições de outros. Sejam as notas e as tonalidades compatíveis com a minha raça ou as duas totalmente díspares. Venha um ruído despido ou o mais belo chorar feminino. Pela beleza mais ampla e abrangente de todas as artes deixo-lhe o maior espaço.

Um conhecer perfeito.

Conhecemo-nos numa quarta-feira. Estava um calor típico de dia de praia carregado pela multidão que se encontrava, como nós, à espera da sua vez. Tu estavas sentada ao lado do único lugar à sombra que havia. Já outros tinham aberto mas as pessoas apressavam-se a ocupá-los. Aquele não. Aquele estava livre e era meu. Foi como se me conhecessem. Olharam para o lugar mas não se mexeram. Ninguém menos eu... Contei até dez e lá decidi que se estava ali sozinho com quatro horas pela frente mais valia estar sentado. Mas ainda não reparei em ti. Quando me sentei vi-te cabisbaixa e impaciente. Tinhas a cabeça apoiada nos joelhos e respiravas com força. Não te ouvia respirar mas via-te mexer ao bater do inspira-expira. Achei graça. Afinal de contas tinha tirado a minha senha há trinta minutos e não havias de estar pior do que eu. Meti conversa antes de pensar no que ia dizer. Riste-te e começámos a falar compulsivamente como se ambos andassemos perdidos há dias em terra de outrém onde se falassem todas menos a nossa língua. Passámos assim as quatro horas. Das mil e quinhentas coisas que dissemos uma ia-me preocupando: estavas pessimista em relação à papelada. Pelo meio de uns imprevistos atrasaste-te demais. Eu que estava setenta e um números atrás de ti esperei-te quinze minutos. Nessa altura, sozinho à tua espera, o sol bateu mais forte e comecei finalmente a suar. Custaram aqueles quinze minutos.. Foi o momento de sofrimento dessa tarde. Depois vieste sorridente e com um ar interrogativo. Pensei que me viesses perguntar como me despachei tão rápido mas não; perguntaste antes porque te tinha esperado. Fiquei em cheque momentaneamente. Vieram-me desculpas à cabeça como "deixar os meus amigos namorarem" ou "não tenho o teu contacto". Menti. Antes de nos despedirmos deste-me o teu bilhete de metro com nove números e um sorriso.

Amor circunstancial ou Amor?

Quando os amigos parentes, aqueles que por minha dedicação são poucos, têm crises existenciais graves, a parede mostra o que tem escrito mas acaba por abanar. Há assim quem não sinta a magia do amor.
Doente do raciocínio sento-me como todos os dias e abro-me para o papel com vontade que o reler torne tudo mais simples. Hoje o tópico é o amor. Sim, tópico mais que batido mas sem deixar de ser um tópico novo visto que, no meio de tanta palavra de outrém, não encontro a reflexão acerca da circunstância. Perde-se muita magia e sinto-me deprimido.
Faço então a pergunta: O amor é sempre circunstancial? Compreendem portanto o que quero dizer com circunstancial... Nós namoramos para combater as nossas fraquezas e acabamos por nos sentir fracos ao afastar-nos de alguém a quem estejamos habituados. Os tristes amam por conveniência sentimental e os burros tristes nem sequer se apercebem disso. Mas isto é daquelas coisas certas e sabidas com as quais não me identifico nem tempo perco apesar de ter muitos amigos assim. A minha dúvida está na circunstância. Conheço também casais que se amam verdadeiramente. Observo esses casais em circunstâncias diferentes e entro em pânico. Casais que poderão vir a partilhar uma vida inteira podiam ser conhecidos, amigos, ou apenas bons amigos em circunstâncias diferentes, fictícias mas reais.
Haverá amor sem este facto? Se ele a conhecesse enquanto ela namorava - tendo a noção que ela quando namora não anda à procura de melhor - teria ela aberto os tímpanos até ao coração? E se tivesse com um namorado que fosse mesmo uma pessoa extraordinária, ficaria ele irremediavelmente sozinho a bater às portas dum amor impossível? Bateria ele à porta sequer? Tentar ganhar uma mulher comprometida é, antes de mais, faltar-lhe ao respeito - tendo a noção que quando se tenta ganhar se dá valor e uma mulher valiosa não treme com cobiças alheias, sejam de quem forem-.
Farto de olhar em redor, olho para dentro e vasculho no meu passado. Não conheço totalmente a minha auto-estima por falta de ângulo visível e mesmo assim sou levado a dizer que, em circunstâncias diferentes, não tinha namorado com nenhuma pessoa ou teria namorado com outras. Trará a circunstância uma certa falsidade ao amor? Em último caso penso no engate. Teremos nós que entrar na dança do engate e só depois perceber o amor? Se assim for somos vulgares e infantis. A partir de que momento passa o desejo a cobiça e a cobiça a amor? Poderão os passos ser feitos sem o primeiro beijo? Na minha opinião sim... Mas para os fracos de espírito. Só cobiça o que não pode ter quem é miserável. Só se fustiga tendo amor à porta quem é triste por natureza. De pessoas miseráveis estou eu farto mas também elas amam. Há passagens que servem para o desejo de beijar e o beijo é passagem para outros voos. Voos esses que podem ser conscientes antes do beijo acontecer mas que pura e simplesmente não são sentidos até ele. Assim sou.
Eu busco o amor verdadeiro e como tal procuro a violência, a nudez e a crueldade no sentimento. Quero desejar estúpida e incompreensivelmente, beijar até me doerem os lábios e depois crescer para o lado que der. Na falta de resposta à pergunta mais óbvia decido procurar o amor pelo amor. Que se foda a circunstância. Vou encontrar a mulher valiosa que me mete nervoso quando me olha, vou deixar-me enervar mesmo e perder o controlo, ficar bêbedo sem beber e sem efeito placebo. Vou evitar a circunstância deliberadamente. Passar ao lado do timing e dizer o que me apetece. Ser como sou desde o primeiro minuto em que me consciencializo que esta abelha é mesmo amarela-torrada e com esta cor não me importo que pique. Se ela se aperceber do que tem e trocar tudo por mim, verei até onde o amor vai e perceberei se valerá a pena sentir-me sincero desde o primeiro momento. Amarei muito ou pouco tempo, incessante ou fogazmente mas amarei! E isso é que importa! Amarei ao lado da circunstância e provarei ao mundo que o amor é mais do que todos pensam e fazem dele. Refilarei convosco por não me responderem com as vossas vidas mas serei tolerante e deixarei que vivam a meio gás. Não sou romântico nem tempestuoso, não sou estúpido nem fácil. Sou o que amará sem circunstância ou que morrerá a tentar.

Monday, August 28, 2006

Carta de amor.

Escrever-te vai contra tudo o que acho correcto. Porém faz-te mimada e feliz. Não resisto ao sorriso e ao calor que vais sentindo mesmo que nessa altura trema de frio. Quando penso que me seguro vem um olhar, um tique, um pentear o cabelo, um ajeitar os óculos e pior que tudo é vir essa mania que tens de brincar com as unhas. Nessa altura seguras-me outra vez e deixas-me sem silêncio. Na ânsia de não poder escrever o que respiro, de não ouvires o meu inspira-expira, encurralas-me e tiras-me a chance de sobrevivência. Nessa altura obrigas-me a escrever como se não me pudesse exprimir de outra forma. Quero deixar-te em paz mas mesmo a esta distância vais respirando para cima de mim. Vais trocando e destruindo o que me faz sentir seguro e levas-me a procurar-te para que me apagues o desconforto. Depois afastas-me. Repeles-me como se não fosse da cor que queres e obrigas-me a trincar os lábios para fingir a dor. As minhas palavras escrevem o meu destino. Marcam o que sinto, marcam a tua distância, marcam até a tua mais bela e sensível pele. Não a sentes pelo excesso de força que tens. Habituaste-te a ser dona do teu domínio, a batalhar todos os que te apontam, a te defenderes sozinha... A mais doce abelha também tem ferrão.

Ver para crer... Acreditas na magia das coisas mas comigo precisas ver para crer. Aqui também perco o rumo. Para veres, e finalmente me quereres como ar, precisas de te virar do avesso. É no verso da tua pele que gravo o que sinto. É porque lá ninguém te escreveu. Todos se esqueceram de escrever do lado do sangue e é mesmo ali que deixo a minha letra e te vou tingindo o líquido deixando a mais doce marca no teu corpo. A marca que ninguém nota mas que te preenche até ao mais pequeno espaço. Se te leres do avesso sentes. Escrever-te por fora não é o que procuro. Escrever-te por dentro sem que possas ler é o que me sufoca. Veio agora o tal à minha cabeça e fizeste-me perder o ímpeto. Páro minutos que parecem horas. Sons vagueiam a minha cabeça na intenção de me baralhar. Peço carentemente que me dês o pouco de paz necessário para escrever. Recordo mais uma ou duas palavras afiadas e perco o equilibrio, mais uma vez, sem cair. Reajo assim às tuas estocadas e ainda que sem força para manter os olhos bem abertos acabo por continuar a fitar-te sem esforço.

O meu desejo é que procures a minha marca. Hoje lê-me sem achares que sou querido. Lê-me sem achares que te escrevo sem sentido. Hoje acredita em mim e aceita as minhas palavras como minhas, torna-as tuas e guarda-as como se mais ninguém conhecesse a nossa língua. Hoje pensa nas letras como se só eu te pudesse escrever. Abre os olhos e apercebe-te que mais ninguém te sente assim. Agora vem a mim com jeito e quando me vires de peito aberto, à espera de outro corte, toma-me o pescoço, morde-me a pele suavemente e, no meio de todo o querer, cura-me as feridas dormindo no meu peito. Pára assim a minha guerra, faz o suspiro sair e sentirei que um único momento fez tudo valer a pena. Agora dorme e prometo que amanhã te conquisto outra vez. Assim, sempre. E sempre de maneira diferente. Hoje não te beijo mas fico contigo testa-a-testa o tempo que quiseres. Esperarei que percas a força no corpo para te segurar gentilmente e provar que comigo não cairás nunca. Quando te sentires adormecer com as festas no cabelo abre os olhos, olha para mim e diz-me o que vês. Encaixa-te agora no meu pescoço e dorme num ninho que é só teu.

Amor à primeira vista.

Só existe na mente dos fracos. Existe no geral, porém, a empatia à primeira vista. Empatia que nos mostra estúpida e saudavelmente que devemos baixar a guarda e tentar assimilar quem ainda agora conhecemos. Esta empatia que levará ao desprezo, companheirismo, amizade, cumplicidade ou até amor é o que existe.

Quando nos leva ao amor lá juntamos as mãos e, com um ar perdido e pouco inteligente, dizemos que foi à primeira vista.

O começo.

Não foi hoje que dei o primeiro passo nestes pensamentos e também não é hoje que abro o livro. Seja como for hoje começa este canto.

Que vos sirva de inspiração, de consolo, de motivação, de raciocínio ou apenas de entretenimento. Divirtam-se e não sejam apáticos!