Amar no Escrever

Olhar o mínino, apanhá-lo, exacerbá-lo e racionalizá-lo. Do pensamento para o papel directa e seguramente. As minhas mais inúteis e valiosas premissas.

Wednesday, August 30, 2006

Ciúme para não ciumentos.

Aos olhos de um ciumento, o ciúme não é menos sinónimo de fraqueza, chatice e parvoíce do que aos olhos de um não ciumento. Nesta constatação está a raiz do ciúme. Nós, ciumentos, recalcamos e apagamos todos os impulsos até não aguentarmos mais. Perguntar-nos se temos ciúmes porque isto ou aquilo é ridículo. O ciúme começa muito antes e apenas com a gota de água rebenta. Vamos portanto vivendo a nossa vida passando por cima de ciumices agudas e primárias, deixando sair o nosso total desconforto apenas quando o tanque rebenta.
Não posso deixar de dizer que os ciumentos têm, no entanto, muito pano para mangas que, bem trabalhado, pode ter um sem-número de recursos. Em primeiro lugar o ciumento compreende os ciúmes e a possessividade melhor que ninguém. Depois o ciumento dá ouvidos ao seu amor sem o julgar ou pesar; apenas porque este sente. Não esquecer também que o ciúmento não tem quaisquer problemas em manifestar-se possessivo quando quer - possessividade essa muitas vezes positiva e até necessária para que os outros se sintam desejados. Sou um ciumento da pior espécie mas totalmente domesticado. Numa relação há que dar espaço; deixar fazer o que se tem para fazer. Há que aceitar quinhentos traços calmamente fazendo-se pedidos apenas nas coisas mesmo insuportáveis. Namorar é assim: tolerar muito e exigir pouco! Sou daqueles que diz "sim sou ciumento" e que leva com o "ai não se nota nada, a sério!". Enfim, domesticado...
Culpados não somos por sentirmos com tanta força e espontaneidade. Quando a pessoa que amamos se aproxima para nos dar um simples beijo de olá vem-nos tudo ao chão. Corremos airosamente para a pessoa com um ar "então! tudo bem?" mas quando lá chegamos o mundo entra em câmara lenta. Sem que ninguém repare absorvemos tudo o que conseguimos. Uma festa do cabelo, um aroma, um toque de pele, um olhar mais forte, enfim, o que pudermos! E cobiçamos! Mas cobiçamos mesmo! Então não somos culpados por vermos, num gesto social simples, algo muito mais forte e pessoal consequentemente tendo ciúmes.
Ciúme é sem dúvida fraqueza. É fraqueza que se tem independentemente da nossa força e frieza. É isto que me faz viver feliz com o ciúme. Sendo frio e calculista gosto de me sentir à flor da pele assim por parvoíces. Gosto de me sentir infantil e gosto de o fazer só para mim sem que ninguém me aponte e me exija explicações impossíveis. Ciúme doentio não. Ciúme apaixonado sim se faz favor!

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