Amar no Escrever

Olhar o mínino, apanhá-lo, exacerbá-lo e racionalizá-lo. Do pensamento para o papel directa e seguramente. As minhas mais inúteis e valiosas premissas.

Sunday, January 28, 2007

Vazio.

Pela constante seriedade mostro o incompleto na exagerada vivência circular. Perderei peso quando rir a dois. Não sei se amanhã se depois mas vinco com força a falta de preocupação. A consciência que um exigente, ainda que paciente, tem o passo curto.
"Quem vai dormir? Ah!" Irrelevante pela conotação despreocupada sorrio por sentir displicente. Sentido patente no destapar da desgarrada vontade escrita e escondida no verso da mão. Incansável na minha procura, revelo a incapacidade saudável de quem se limita ao espaço acessível. Recebo o mesmo calor que os outros mas vicio-me como mais ninguém vindo o sorriso ao ocultar o outro lado. Mantendo a onda sublime.
Fico no círculo e aproveito a fartura ignorando a pele mais do que posso. Divirto-me ao máximo e pago por isso já sozinho no canto. Também aqui a coisa me bate em crescendo e só quando os olhos me pesam aceito a derrota como prova da falta que sinto.
Sem pano para mangas acabo por sucumbir cansado ao sono também ele incutido. A intensidade traz o desiquilíbrio que facilita o adormecer da cobiça.
Demasiada maturidade para fantasiar sem que me fantasiem. Demasiado indisposto para fugir ao desgosto. Certo é que gosto. Talvez o pense consciente da sua inutilidade com receio de alargar o passo. Resta-me olhar de tempos a tempos com a suavidade inevitável pela maneira que tem. Aproveitar a batida e esquecer a procura do mais pequeno suspirar. Esquecer coisas à medida do meu bolso. Antes vazio... A última frase do dia.

A ela.

Em minutos agarrei a mão e no susto puxei o álcool como desculpa. Beber foi a única fuga aceitável da boca para fora sem ainda perceber o ímpeto que foi procurar a sua pele.
Por gente melhor provei a contrariedade e dei distância bem intencionada e decidida. Porque optei sempre por falar a um palmo, porque não larguei o seu traço e porque procurei o seu toque é irrelevante. Foi apenas demasiado rápido, não para perceber, mas para querer evitar.
Sem aviso ficámos sem tempo e ao frio. O mais confiante foi meramente suficiente para o seu mais importante sorriso. "Comos" e porquês impossíveis em três tempos falados como se partíssemos em instantes. Como explicar a beleza das palavras melancolia e viciante? Como provar-lhe a falta de consciência do meio? Tentei; e ela, mais genial, vincou a personalidade em meia dúzia de questões - genial logo pela certeza contrária e só sua -. Mostrou-se da maneira mais sublime. À maneira da sua voz. Foi assim e com um suspiro que me baixou o queixo pouco habituado a respirar lentamente fora da já rara solidão.
"Por mais altruísmo que busque, nestas coisas a dois - e coisas a dois são contigo - não te posso deixar ir embora". Foram estas as últimas e únicas palavras verdadeiramente doces. Por falta de tempo provei a perfeição relativa e incompleta. Tinha dado a minha razão para que percebessemos o sentimento ao virar das costas... Adormeci mais tarde pela noção que não podíamos. Não podemos tirar a relatividade à perfeição. Não podemos tirar-lhe o sentido se colamos da melhor maneira. Não deixaremos a fome, a atenção ou a vontade nem faremos o mundo girar ao contrário. Talvez o nosso mas não o de todos. Irá apenas tingir-me a tela de dentro enquanto desajeitados a procuram por fora. E eu...
...querê-la-ei amanhã. Somente.

O cuidado do começo.

Querer, ter, sentir. Um amigo chama-lhe batota mas não o faço por falta de coragem; por medo do desgosto. Sou apenas imune à paixão curriqueira... Quando me desperta a cobiça prefiro reflectir calmamente sem objectivo concreto. Surpreendido na percepção do seu crescimento sobre alicerces como a volatilidade do ego ou a vontade de amar.
Em mim poucos são os casos assentes num estado de normal temperamento. Sinto nesses a potencialidade de uma mulher optando por esperar calmamente o desenvolvimento sem choque. Em casos de paixão desmedida, recalco mesmo o sentimento guardando apenas o caloroso sabor como algo certo à distância da posse.
O desgosto ao qual fujo acaba por ser um desgosto sem nexo. Preferia ser como tantos e senti-lo em vez de acabar as noites menos quente e mais equilibrado. Sortudos, mais ou menos dramáticos, lembrem-se que nem os cães se deitam sob árvores que não dão sombra.
Ao sol, escrevo pelo pouco que não tombei. Pelo trincar dos dedos. Pelos segundos exagerados em que olho o espelho depois de lavar a cara. Imune ou não, sou resistente e avassalador é o toque de quem me faz perguntar de e a mim mesmo.

Eurovisão.

É certo e sabido que há mulheres propulsoras de comichão escrotal. Não vos falo daquela comichãozinha agradável do enrijecer dos tomates quando os metemos de fora. Refiro-me mesmo a uma micose extra-terrestre incurável com o fungicida mais potente. O tipo eurovisão é comichoso.
A mulher eurovisão é aquela que na primeira noite de sexo - primeira porque com estas a segunda é a milhas - faz um verdadeiro festival. Maluqueiras e o camandro um gajo agradece mas gajas que ainda nem a coisa começou e já estão aos saltos em cima de novos parceiros que nem profissionais do sexo fazem comichão. Quererem mostrar qualidades na cama é-me difícil de assimilar pacificamente mas um gajo até se sente importante. Fazê-lo sem qualquer tipo de timing é, no entanto, intolerável. O sexo faz-se a dois e em crescendo. Começar pelo meio assim à primeira só me dá vontade de dormir. Trata-se de puro exibicionismo tanguço carregado de ignorância. Parecem entusiastas inúteis, sorridentes e incompetentes, aos pulos todos contentes à espera do prémio final coroador da performance mais anti-tusa. Um tipo pede aos amigos para fazerem plateia com mini-bandeiras do Chipre e da Bósnia e temos o festival da eurovisão!
Enfim, se são felizes a tentar impressionar na cama sejam minimamente inteligentes e papem putos imberbes.

Beijo.

Teorias e dizeres acerca do beijo à mesa de todas as salas. Para mim é escrever um texto apaixonado... Real, fictício, perceptivel, cisudo, inconsequente ou incompetente tem apenas de começar branco e com querer. Depois que me leve à luta mais solta ou me ate de amores.
Por isso dei a poucas um pouco de calor e a menos um pouco da alma. Mais ou menos incompleto, beijo feliz.

Sorriso Infantil.

Peculiar é a fuga para a criancice. No entanto, fugimos demasiadas vezes para o lado menos positivo. São tantas as coisas que fazemos melhor em crianças. Talvez a mais díspar e importante seja o sorriso. Aprendemos com o tempo a sorrir sensualmente ou educadamente desaprendendo o riso ou esquecendo a sua verdadeira saúde. A ideia apresenta-se universalmente quando apregoamos um sorriso de criança como algo mais belo, único e puro. Com isto abraçamos a incapacidade de voltar a sorrir despreocupada e livremente. Se sorrimos tantas vezes sem cinismo nem maldade porque não fazê-lo como uma criança...
Acabamos então por sorrir atados ao espaço de tal forma que já nem sós sorrimos verdadeiramente. Não fugindo à regra, acabo por esconder umas gargalhadas, uns quantos soluços e parvoíces gestuais. Que outra hipótese tenho senão a de sentir.
Hoje conheci alguém assim. Sorriu-me docemente mas sentiu-o mostrando-me um brilho nos olhos tão natural na sua face e tão raro nas outras. Abriu-me a noção que sorrir não é agora melhor nem pior; é simplesmente diferente. Sinceramente senti-o pela sua raridade como mais viciante e envolvente do que qualquer sorriso infantil. Senti paixão pela vivência apaixonada da vida e garanto-vos que ainda hoje sorri ao acordar verdadeiramente enfeitiçado.