Gota a gota.
A meio dum caminho típico cedo enveredei pela semi-monotonia do raciocínio livre. Debruçado em factos sublimes e em memórias fictícias... Com espaço tentei separar a simples ocorrência do intruso sentimento.
Caminhando reflexivamente evitava os projectos e vontades vincando a importância dos momentos menos progressivos mas nada inertes. A chuva despertou-me o espaço e desconfortável saí do meu canto esforçando-me para evitar pedras soltas. Escondi o pescoço... Em redor via estranhos agora noctívagos familiares pela postura e preocupação comum.
À chuva percebi a generalização da vivência. Gota pesada e uníssona em excesso. Marcante, apenas sentida em conjunto ou como a maioria esbanjada em corpo que não o meu. Pesei então por todas as que me passavam ao lado e esbarravam em força incapaz de a sentir. Levantar o queixo, dar as palmas às nuvens, ceder os ombros... Chegaram as gotas mais fortes. Sentia as pálpebras cederem e as mãos incapazes de ajudar pela já enrijecida e fustigada pele.
Cheguei carregado a casa. Optei por tratar as gotas calmamente e sempre com um sorriso inexplicável dos olhos para fora. Deitei-me e abracei o conforto com mais valor. Tive tempo para sentir no osso e perceber a importância de abraçar a tempestade sem preocupações. Esquecer os valores acumulando vivências sem medo da incompreensão. A ignorância é assim momentânea e na bonança prova-se o passo e bebe-se a verdadeira vontade.
De manhã, saciado mas sempre curioso, percebi a felicidade ao abrir a cortina. Neste inverno em que vivo a chuva ainda não parou.