Amar no Escrever

Olhar o mínino, apanhá-lo, exacerbá-lo e racionalizá-lo. Do pensamento para o papel directa e seguramente. As minhas mais inúteis e valiosas premissas.

Tuesday, September 12, 2006

Dois pesos e duas medidas.

Assombra-me o desiquilíbrio na amizade. Numa relação ninguém dá com a mesma intensidade mas há estados de tal maneira desregulados que fazem qualquer um perder o norte. Há coisas que dizemos por parvoíce, por graça e por tudo menos sentido levando-me a crer que a genialidade do amigo está na percepção do timing. Um amigo que reaja sempre da mesma maneira à mesma situação é um "social dildo" e um amigo que não se interesse pelo estado de espírito que temos é uma merda. Chamem-lhe interesseiro, egoísta ou egocêntrico que eu chamo-lhe uma merda. Note-se que não ter interesse nada tem a ver com não mostrar interesse! Muitos bons amigos ao perceberem nuances mais tristes combatem-nas com felicidade radical. Importante é compreender os diferentes estados dos amigos sem julgarmos as suas razões. Se dizem "não fiques assim por uma parvoíce", antes do amigo se referir à raiz do problema como parvoíce, são amigos medíocres ou, pior ainda, pessoas medíocres. Se se interessam mas perdem interesse quando não compreendem pessoalmente a razão da tristeza, são amigos cínicos e incompetentes. As fases em que a desregulação da amizade se vinca vêm com a mais ou menos natural e mais ou menos compreensível desregulação de um dos polos.
Os que se preocupam e se sentem sempre capazes de ajudar, preferem passar os maus tempos sozinhos. Podem não o fazer mas porque, inadvertidamente, a companhia se mostrou capaz num primeiro episódio em que a tristeza era demasiada para ser escondida em todos os cenários. Para esses, partilhar os maus momentos pode ser doloroso. Dor vincada na incompetência com que alguns reagem à mudança de carácter tão característica das alturas mais pesadas.
Sou intolerante por excelência mas num dos meus passos comecei a tolerar de tudo um pouco, sem perder, no entanto, a noção das minhas fronteiras. Não me escapo portanto a uma tolerância consciente. Tolero porque decido tolerar.
Frio e calculista reflicto antes de agir e arrisco porque me interessa arriscar ou porque, pura e simplesmente, me dá gozo. Todos repetimos o que nos dá gozo. Não posso portanto dizer que tenha momentos de singular reflexão. Tenho momentos de singular reflexão das reflexões.
Há portanto quem me veja tolerante e espontâneo quando o sou unicamente por opção. Há portanto quem veja traços meus e os junte a momentos de mau humor. Há quem se preocupe com ocasiões minhas mas não se preocupe comigo. Há assim amigos incompletos que, por falta de vontade ou excesso de burrice, não vêm como sou. Amigos que servem apenas para tornar os bons dias melhores e nunca para tornar os dias bons.

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