Amar no Escrever

Olhar o mínino, apanhá-lo, exacerbá-lo e racionalizá-lo. Do pensamento para o papel directa e seguramente. As minhas mais inúteis e valiosas premissas.

Tuesday, September 05, 2006

Meus ricos filhos!

Não na totalidade mas na maiorzíssima parte dos casos, o amor acaba por ter prazo de validade. Desde os pequenos e infrutíferos casos de amor até ao casamento somos confrontados, frequentemente, com a dolorosa exumação do nosso eu singular. Contra frases tão fatalistas lembram-se agora, pela quantidade de gente casada, que a consagração do amor não é tão difícil como faço parecer. Lembram-se da tia Francisca e do tio Horácio assim como de outros casais mas o que quero vincar é que este não é amor familiar. É esse o ponto fulcral para apoiar esta minha opinião.
O amor familiar é um amor diferente. Chamemos-lhe um amor pré-definido. Um amor de nascença. Quando dois familiares que se amam se zangam verdadeiramente, nenhum deles põe em risco a continuação da sua relação. São raros os casos de verdadeiro amor familiar que acabe e leve à separação total das pessoas. Podem apelar ao casamento duracell, que ao fim de um certo tempo leva os cônjuges a serem família, mas este laço nada tem a ver com o laço familiar. A ligação de um casal não deve estar dependente financeira, profissional, burocrática e familiarmente (Sim, esqueçam a ideia que os filhos precisam de pais juntos... Hoje em dia é muito mais traumatizante para os putos ver o Castelo Branco na televisão do que ter pais separados e, mesmo assim, ninguém tenta tirar a TVI do ar. Importante para os miúdos é terem pais que amem e vivam o amor). Para um casal exigente, que se ame com muito mais certezas que dúvidas, estas dependências podem existir, visto não fazerem peso na sua ligação, mas fora este caso devem ser cortadas imediatamente. A liberdade de escolha é assim muito importante e os casais devem sentir que estão juntos unicamente por uma opção amorosa tomada dia após dia assim como se devem sentir capazes de acarretar com a vida sozinhos já amanhã. Outro dado que faz diferir o amor familiar do amor entre casados está relacionado com o facto de muitos casamentos duracell acabarem em divórcio e, pior que isso, são aqueles "inacabados" com duas pessoas que, não estando estagnadas amorosamente, estão já estagnadas na ausência de amor. Estes últimos parecem raros mas são muitos e é duma das suas frases de marca que quero falar.
Uma frase que não aguento em pessoas casadas e supostamente apaixonadas: "ai o melhor da minha vida são os meus filhos". Mas que raio de doença é esta? Será que nenhum pai tem lata para dizer "o melhor da minha vida é a minha mulher"? Será que ninguém repara que os filhos são amados antes de mais por serem filhos? Ninguém escolhe os filhos que tem! Por mais que tenhamos um filho burro, fedento e asqueroso amamo-lo sempre. Ter filhos não é mais que uma fase da vida que, tendo muita importância no crescimento das pessoas, não é sequer obrigatória. Amar um filho está relacionado, na maior parte dos casos, com o mais forte amor familiar mas um amor pré-definido, ainda que pleno de orgulho e que leve também à realização pessoal dos pais, não se compara nunca ao amor que escolhemos. Compreendo que quando a coisa resulte os pais se sintam consagrados mas deixem-se de merdas. Os vossos filhos não são diferentes de nós! Mesmo que vos oiçam atentamente serão escritos por vós prioritariamente apenas durante um curto espaço de tempo reflectindo-se essa relação numa parte relativamente pequena da sua personalidade adulta; fora em caso de trauma infantil e coisas desse género.. O mais importante da nossa vida tem de ser aquela pessoa que abraçamos por palavra nossa! Se metemos sinceramente os filhos à sua frente está na hora de começar uma introspecção grave, de pedir o divórcio ou de nos consciencializarmos que somos amantes falhados na maior aventura das nossas vidas. Aquela que não depende de espermatozóides nem de óvulos funcionais. Aquela em que só precisamos de ser pessoas! Não serão os filhos importantes a priori por serem a consumação de um amor? Mesmo em caso de adopção... Não serão os filhos uma etapa da vida que se quer etapa do amor? Criar filhos é difícil e trabalhoso mas já o homem pré-histórico o fazia. Amar filhos é bonito e natural mas até o mais burro dos animais opta por dar a vida por eles. Não tirando mérito aos bons progenitores deixem-me implorar-vos para que dêm valor ao vosso par. Em amar os filhos como toda a gente ama e reconhecer a cara metade como a maior valia do universo encontra-se a mais bela prova da vitória. Não da única batalha que temos pela frente mas, sem dúvida, da mais difícil e gloriosa de todas.

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